Na ausência, e na penumbra, quando estou só, parece que oiço a tua voz.
E ela fala para mim e por mim diz-me que não tenho culpa de estar só, que não tenho que ter vergonha, que não é a tua dor, que não foste tu a culpada por todo este sofrimento.
Mas a realidade pesa...
Estamos sós ... E parece que a única coisa que se faz realmente bem neste mundo é mentir.
Claro que fico triste por isso, é um facto e não sou louca ao ponto de pensar, que as mentiras não devem ser levadas a sério.
O Mundo a vida, e toda esta maravilha que nos rodeia, é a sério, não é a brincar, airosamente para aqui andamos a estragar tudo.
Sim Fico triste, permito-me a isso.
...
E o silêncio instala-se, perco a minha atenção numa musica e ao compasso das musicas, ou até de um sabor duma peça de fruta, e até aí parece que te sinto no sabor.
É tudo uma mentira nada disto é real. Estou a falar comigo própria e não com Ele.
Choro, dilato-me em tristezas e as lágrimas percorrem o meu corpo como ondas de suor nos nossos corpos se estivesse contigo.
SE, o se vale quanto nesta dura realidade? Um TOQUE não vale nada se não for por amor.
Queria tanto sentir-te e canto num gemido de dor. Descontrolo-me é óbvio. Então e será que enlouqueci? NÃO, não enlouqueci. O meu erro foi amar antes de saber se seria algum dia correspondida. E isso não é loucura !
Digam o que disserem. Façam o que fizerem, o meu amor vai para aquele que está longe e se calhar nem existe.
E no silêncio adormeço, descanso nas trevas e já sem estar à procura, voltas a falar-me nos sonhos, e são as mais bonitas histórias de amor, daquelas que só acontecem aos outros, outros esses que muitas vezes nem aproveitam as grandes almas que têm ao lado.
É a minha pena.
Desintegro-me em orvalho.
Aqueço e evaporo-me.
Flutuo e parece que danço contigo.
Deixo-me envolver porque estou profundamente cansada e a precisar de sonhar.
E volto a ouvir aquela voz, mas desta vez, sussurrada.
Sou um por de sol triste.
...
-Eu sou Tu e tu és Eu.
Mas como posso afirmar isso ? Como eu sou eu, sempre serei eu, conheço-me à muito, mas às vezes parece que me esqueço.
Em criança ouvia a tua voz com muito mais frequência, e sempre foi doce, lembro-me de olhar para um canto manchado do tecto e imaginar que tu eras o meu Deus.
Cheio de barbas e respeitável.
Como a humidade aumentava... as formas deixaram de ser certas e visualizava um milhão de coisas possiveis associando então a uma coisa que já conhecia.
-Ligações no cérebro, apenas isso...
-Tenho um eu realmente pouco romântico.
-Sim hehe.
-Ok podes parar, falar sim! Mas rir não!
...
E cala-se a voz, mas não para sempre, sei que volta sempre que chamar por ela. Porque esse eu não é o meu outro, é apenas o meu outro lado.
E eu também me calo.
...
E observo a vida em meu redor, tudo parece ter um ritmo próprio, um momento em vez de tempo, que é perfeito mas não absoluto, e frágil... muito frágil.
Ilumino-me e ilumino os outros que como que moscas parecem atraidos por mim, e enchem-se como pavões que são quando me vêm, e suspiram quando o meu olhar só dura meio segundo.
-Ai meu Deus, exclamam.
Mas não é Aquela cara que eu amo.
Eu reconhecia-te em qualquer lado, mas eles só me querem violar.
Por isso, NÃO! Se não me vês, ninguém me vê! E escondo-me e fujo de toda a gente, e tu perdes-te nas minhas memórias e dores.
Calo-me e não falo mais de ti para mim própria.
E parece que revoluções surgem à minha volta, tumultos, tragédias, azares, tudo parece desconexado.
A minha questão eterna será, até quando?
...
Até quando vou aguentar esta ausência, até quando ?
Até quando é que vou escrever a minha dor ? Até quando?
Até quando?
Não sei se aguento o mundo sem te abraçar e morro:
Deixo de comer, deixo de querer respirar, deixo-me de mim
e esvazio-me toda apenas sobrevivo para os outros não me interessa eu própria, porque só me fala de ti, está completamente apaixonada e simplesmente não dá para satisfazê-la.
Oiço uma voz:
-Pelo menos agora...
Estou muda.
-...
-Não é?
Impávida e serena respondo.
-...é.
- O Agora pode ser psicológico ou não.
-Gosto dos dois em conjunto, amo a perfeição.
E calo aquela voz.
Prossigo o meu caminho. Nem me importando sequer se foi a mim própria que respondi.
E cheia de feridas de amor por estares longe de mim. Sofro, mas existo, recolho e sei colher o melhor dos frutos que a vida me dá.
Não sei o que fazer com ele porque já não tenho fome à muito tempo. Por isso destribuo o fruto da vida aos outros mas não para mim.
E nesta miserável existência seguem-me estas lesmas que me sugam que me exigem e que me manipulam.
Mas eu não vou ceder a estas chantagens, eu vou seguir o meu rumo, o meu rumo é conhecer, perceber e encontrar. E não vou parar até te encontrar. Nunca me esquecerei disso. E liberto-me aos poucos das correntes enlameadas deste pantano, a que chamamos de Terra.
E despeço-me deles em todo o lado.
Como estão desatentos nem notam, pobres coitados.
É uma morte, uma mudança, um adeus sem saudade. Até o dia. Já comecei a andar, são passos pequenos para ti , mas não para mim, estou em areias movediças, território demasiado perigoso.
Uma armadilha terá que ser criada; Uma emboscada para apanhar todos os predadores que viveram da minha vida. Alguns ... Poucos mas bons, já se soltaram de mim, porque também lhes ensinei a pescar.
Mas outros afligem-se. Porque sabem mesmo não admitindo, que sem mim não são nada.
Tenciono encontrar-te mas a verdade é que não preciso que me companhes, basta-me ver-te um dia, beijar-te um dia, abraçar-te um dia, e se quiseres ir - Vai. Que também irei, seja para que sentido for, o meu é para evoluir.
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Nestas conversas nocturnas comigo própria, adormeço molhada em lágrimas, e nos sonhos parece que sinto a tua voz quente, dentro de mim que me aquece dizendo:
-Não é a tua culpa se estou só a olhar para o mundo. Não é por tua culpa que ele cai.
-Não é o teu sofrimento, não é a tua dor, e também não é minha.
-Mas Hoje Sou tu. E Hoje tu estás comigo. Anda comigo por favor, Tu és a minha Rainha, a noite é pequena, vamos dançar. Juntos, abraçados.
-Toca-me e sente-me por aqui.
-E antes que venha a manhã, ama-me.
A noite é a nossa aliada.
...
Acordo e respondo:
- Tu és Tudo e não és nada e o que sou para Ti ?
- Eu sou também a manhã, sou Tudo, e não me contento com um nada.E aqui estou presa a um nada eterno.